Doses

Sirva-me um pouco de vinho, sente-se, sinta-se à vontade. A casa é sua. Agora podemos conversar.
Sei que vai parecer um monólogo mas será que você poderia me deixar falar? Eu juro que não incomodaria bastante. Obrigado pela atenção. Bem, não vou ficar lamentando pelo que poderia ter acontecido, embora que isso costuma doer um pouco na calada da noite, mas nada que um bom vinho não sirva de analgésico.
Também não quero ficar relatando sobre o que aconteceu nos últimos dias. Então, cheguei em um empasse. Nossa, ainda estou na primeira taça e já estou perdendo o raciocínio.
Não leve a mal, gostaria de elogiar seu gosto por um bom vinho seco. Mas cá entre nós, imagina se o vinho não nos trouxesse esse conforto e esse...clima, mais aconchegante. Provávelmente Dionísio ia ser deus de outra coisa. Nossa, posso me aproximar? Não consigo te ouvir bem.
Quão acolhedor é o seu sofá. Por favor, mais uma dose. Ele me faz lembrar de antigas recordações, da época em que nos conheçemos e nos tornamos íntimos. E essa segunda dose...me lembra que ja faz algum tempo que falo sem parar. Estou me sentindo tão só que não consigo parar nem pra pensar no que estou dizendo. Você poderia me abraçar? Estou sendo tomando por uma onda de vazio que faz com que eu me sinta menos amado.
Nunca me senti tão bem quanto agora. Obrigado. Mas acho que o vinho realmente está perturbando meus pensamentos. Seu abraço me fez perceber o quanto teu colo é quente, macio...agora irei me lamentar.
Lamento não ter te abraçado mais vezes quando você precisava ou quando simplesmente queria meu carinho e eu neguei. Mais uma dose e vou me revelar de corpo e alma. Por favor, não provoque minha embriaguez enchendo minha taça. Você pediu...agora vai ter que me aturar.
Isso me fez pensar o quão carinhoso você está sendo comigo. Me acolheu, me ouviu, me abraçou e.............................
Aqui não é lugar para falar sobre isso. Podemos ir pro seu quarto?